Quase 60 anos depois do decreto assinado pelo presidente Castelo Branco instituindo a véspera da primavera como uma data dedicada ao incentivo à proteção das árvores e promoção de ações ecologicamente sustentáveis, um levantamento inédito coloca o Brasil em um novo novo patamar de desmatamento na Amazônia.
O Monitor da Floresta do PlenaMata - projeto do MapBiomas, InfoAmazonia, Natura e Hacklab pelo fim do desmatamento - aponta que mais de 300 milhões de árvores foram derrubadas na Amazônia entre 1 de janeiro e 10 de agosto de 2022.
Isso representa 940 árvores por segundo derrubadas no Brasil.
Apesar da crescente preocupação com a preservação do meio ambiente, as pessoas ainda não têm a dimensão do que as árvores representam. Elas são essenciais para a conservação do solo, regulação do ciclo da água, diminuição da temperatura e controle dos níveis de oxigênio e de carbono na atmosfera.
Recentemente, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) anunciou que em 2022 a área de floresta desmatada da Amazônia Legal foi a maior dos últimos 15 anos.
Foram derrubados 10.781 km² de floresta, o equivalente a sete vezes a cidade de São Paulo, entre agosto de 2021 a julho de 2022.
São as árvores as grandes responsáveis por combater o aquecimento causado pelas mudanças climáticas, armazenando carbono em seus troncos e removendo dióxido de carbono da atmosfera.
A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que o desmatamento é responsável por 13% do total das emissões globais de carbono.
O levantamento do Carbon Brief sobre o acumulado histórico de emissões de gás carbônico, põe o Brasil em 4.º lugar entre os maiores poluidores do mundo desde 1850.
A pesquisa diz ainda que o desmatamento e outras mudanças no uso da terra foram a fonte de 86% do CO₂ emitido no Brasil em 171 anos. Esse resultado coloca o país como líder na categoria entre os 20 maiores poluidores.
Com o propósito de trazer à luz o cenário e empreender de forma mais sustentável, empresas têm se mobilizado para promover a conscientização individual, além de reforçar esforços coletivos para redução de impactos ambientais e, especificamente, conter o desmatamento do maior bioma brasileiro.
Uma delas é a Nike, que firmou uma parceria com a SOS Amazônia para restaurar uma área de 200 hectares no Acre - equivalente a 200 campos de futebol. O objetivo é plantar 400 mil árvores nativas até 2025.
No intuito de amenizar parte dos impactos ambientais, principalmente a emissão de carbono durante a produção, a empresa Embalixo criou sacos de lixo com cana-de-açúcar e plástico reciclado.
A partir do eteno verde, a empresa paulista fabrica, com exclusividade, o primeiro saco de lixo sustentável à base de cana-de-açúcar. Apesar de ter um custo um pouco maior que as embalagens convencionais, o saco sustentável se decompõe mais rapidamente na natureza, e pode ser reciclado.
Além de reduzir o dano gerado, na outra ponta essas ações estão permitindo que a sustentabilidade não seja mais uma prerrogativa do setor privado. Pelo contrário. Apesar de tímido, há um movimento de empresas ajudando o governo a ser mais sustentável com um aliado em comum: a tecnologia.
O projeto À Prova de Papel da startup Aprova Digital, idealizado pelo arquiteto Marco Antonio Zanatta aos 26 anos, tem como objetivo acabar com a dependência de papel nos órgãos públicos de todo país.
Saem os alvarás, certidões, memorandos e outros documentos impressos, entram os processos digitais, tramitados online de ponta a ponta, sem necessidade de imprimir uma folha sequer de papel.
A tecnologia implantada na Prefeitura de Sorocaba, no interior paulista, vai ajudar a Secretaria de Urbanismo e Licenciamento a deixar de consumir mais de 350 mil folhas de papel sulfite por ano. Isso porque os 5 mil processos protocolados anualmente serão 100% digitais.
Outras cidades já aderiram ao projeto. A Prefeitura de Patos de Minas, em Minas Gerais, economizou R$ 13 milhões em apenas 3 meses depois que digitalizou 100% das secretarias e poupou cerca de 150 toneladas de papel.
Muitas empresas do setor privado, em diversos segmentos e portes, já adotaram tecnologias semelhantes em suas rotinas, reduzindo custos e consumo de papel. Já o governo, para Zanatta, ainda carece de investimentos para modernizar seus serviços, por esse motivo o setor público é o foco da startup paranaense.
Cerca de 65 municípios brasileiros já aderiram à ideia e economizaram mais de 257 mil toneladas de papel em cinco anos.
“Adotar práticas ecológicas têm ajudado milhares de empresas a se sobressair no mercado, além de minimizar os impactos negativos, tornar os processos eficientes e o consumo mais consciente. O setor público também está se adaptando a essa realidade, garantindo que os serviços prestados à população sejam de qualidade, na mesma medida que são sustentáveis”, explica Zanatta.
De acordo com o Instituto Akatu, a geração de resíduos de papel e os impactos associados à fabricação de celulose também são responsáveis pelo agravamento das mudanças climáticas.
Em 2020, a produção de celulose alcançou seu segundo maior volume histórico, chegando a 21 milhões de toneladas.
O dado, que faz parte do relatório anual IBÁ 2021, mantém o Brasil entre os 10 maiores produtores de papel do mundo, com recuo de 3,3% nas exportações em relação a 2019.
Bruno Yamanaka, engenheiro ambiental do Akatu, explica que as florestas que não são manejadas adequadamente trazem diversos impactos negativos. Entre eles, afetam a biodiversidade de plantas e animais, fertilidade do solo e a qualidade da água. Os danos são reduzidos quando o manejo ocorre de forma sustentável.
O consumo de água pelo setor impressiona. Ainda segundo o Akatu, até 13 litros de água podem ser consumidos para produzir uma folha de papel A4.
Isso significa que um órgão público ou empresa, por exemplo, que utiliza 200 folhas de sulfite por dia pode poupar cerca de 660 mil litros de água em um ano, caso decida operar de forma mais sustentável em sua rotina.
Sem dúvida esse seria um bom presente para comemorar o próximo Dia da Árvore.
A doutora pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e consultora de Sustentabilidade, Manú Passos, explica que governos inteligentes olham e investem em soluções tecnológicas para melhorar processos.
Ela reforça que, para deixar de utilizar o papel - uma matéria-prima tão intrínseca na rotina das pessoas - é necessário quebrar paradigmas, por ser algo considerado culturalmente essencial ao ser humano.
“A agenda ambiental da administração pública já prevê formas de melhorar a administração no sentido ambiental, mas muitos órgãos ainda não possuem isso instaurado. Temos avançado, mas é preciso mudar a cultura para entender que existem alternativas viáveis e seguras para fazer essa transição”, avalia.
Proporcionar aos moradores uma cidade mais limpa, com menos circulação de papel e ainda melhor para se viver é apenas uma das vantagens de uma gestão pública sustentável.
O Aprova Digital também elimina a burocracia excessiva, acelera a liberação de alvarás e licenças, desonera a máquina pública e gera economia ao município. Mas os benefícios da plataforma digital vão além.
Digitalizar processos e fluxos do serviço público deixam um legado permanente nas cidades. Essa atitude servirá de exemplo e inspiração para novas ações e gerações, engajando toda a comunidade para lutar por uma cidade sustentável.
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