Em um ano desafiador para startups em busca de investimentos, quem encontra um jeito de crescer na contramão da crise se sobressai. Marco Antonio Zanatta é um deles. O fundador e CEO da Aprova Digital acaba de anunciar o maior aporte já realizado em uma govtech da América Latina.
"Viramos uma chave que nos coloca na vanguarda de um mercado tão promissor quanto carente de tecnologia", ressalta Zanatta..
Liderada pela Astella e VOX Capital - gestora do fundo de CVC de impacto do Banco do Brasil - a rodada Seed no valor de US$ 4 milhões (R$ 22,5 milhões) - também teve participação do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina) e da Endeavor, por meio do Programa Scale-Up.
"Trabalhamos com montantes e expectativas saudáveis, e os investidores têm visão de longo prazo", comenta Zanatta, que com o investimento pretende triplicar o retorno e, pelo menos, dobrar a projeção de receita para 2023.
O anúncio vem quase dois anos depois do último aporte. Em janeiro de 2021, a Aprova recebeu R$ 4 milhões de um Pré-Seed também liderado pela Astella, que já investiu na RD e tem em seu portfólio empresas como Omie, Sallve, Livance, Cayena, Gove, entre outras.
“Além de acreditarmos no time, na tese e na oportunidade do mercado govtech no Brasil, a empresa vem crescendo de forma acelerada com uma gestão de capital eficiente. As perspectivas são as melhores”, Marcelo Sato, sócio da Astella responsável pelo investimento.
A VOX Capital - gestora do fundo de Corporate Venture Capital do Banco do Brasil - é a primeira gestora especialista em investimentos de impacto do Brasil e já fez mais de 50 aportes em startups, como Celcoin, Sanar, Nude e Isa Lab.
“Como VOX e BB, identificamos que a Aprova tem uma solução potente, que melhora a utilização de recursos públicos e a relação cidadão-governo. Com o investimento e parceria estratégica, haverá desenvolvimento de soluções que vão gerar resultados financeiros e impactos positivos para conexão do indivíduo com o governo”, afirma Marcos Olmos, sócio da VOX Capital à frente da gestão do CVC do Banco do Brasil.
O BB Impacto ASG tem como objetivo investir e impulsionar startups de base tecnológica que endereçam problemas socioambientais com foco em fintechs, agritechs, govtechs e startups com soluções que buscam melhorar a experiência digital dos clientes do Banco. O fundo prioriza empresas nos estágios Seed e Série A, e a previsão é ter até 15 empresas na carteira.
Segundo Fausto Ribeiro, presidente do Banco do Brasil, o investimento vai contribuir para estreitar o relacionamento do Banco com o setor público ao mesmo tempo em que fortalecerá o processo de transformação digital do BB.
Isso porque, segundo Ribeiro, soluções da Aprova Digital carregam inovações que podem transformar e acelerar os processos de prefeituras, com ganho de eficiência e agilidade.
"Para o cidadão, isso significa um atendimento mais rápido e soluções que atendam suas necessidades em menor tempo. A melhora na experiência do usuário, seja ele uma prefeitura ou um cliente pessoa física que se beneficie das inovações, está no cerne do que buscamos com o nosso programa de Venture Capital”, complementa o presidente do BB.
Zanatta acredita que a simbiose entre público e privado é indispensável para tornar o serviço público exemplo de eficiência.
"O futuro dos serviços governamentais é proporcionar uma experiência tão eficiente e positiva quanto a já vivenciada (e aprovada) pelo cidadão no setor privado", destaca o CEO da Aprova Digital.
Fundada em 2017, quando a expressão govtech ainda começava a se difundir pelo mundo, a Aprova Digital é uma suíte de soluções para modernizar instituições públicas com a tramitação digital e automação de processos.
A plataforma substitui qualquer processo físico, presencial e manual pelo atendimento digital, online e, em alguns casos, instantâneo. Saem os alvarás, certidões e outros documentos, entram os processos 100% digitais, que dispensam a impressão e o desperdício de papel.
Paralelo à redução do impacto ambiental, a Aprova sobe a régua de qualidade da gestão pública, principalmente em prefeituras e câmaras municipais, porque agrega transparência e eficiência aos serviços para o cidadão, além de oferecer dados e indicadores para acompanhamento de resultados e tomada de decisão pelo gestor.
Conectados a um smartphone, tablet ou computador, os cidadãos protocolam pedidos e solicitam documentos que, até então, só poderiam ser requisitados presencialmente em dias úteis, durante o horário comercial.
É possível usar para serviços muito simples, como podas de árvores, demandas de RH, reclamações no Procon, até os mais complexos, como alvarás para construção e habite-se, licenças ambientais, abertura de empresas, entre outras.
Além de migrar tudo para o digital, a Aprova integra com outros sistemas e automatiza várias tarefas, agilizando o atendimento ao cidadão, reduz erros e sobrecarga de trabalho do servidor, que transfere o foco para demandas
Há mais de dois anos a plataforma é a porta de entrada de processos de licenciamento urbano na Prefeitura de São Paulo (foto). Cerca de 900 servidores de 32 subprefeituras paulistas trabalham simultaneamente, seguindo os mesmos padrões.
O prazo de espera de quase um ano para o licenciamento urbano de moradias populares reduziu em 80%, permitindo um salto de 39.000 unidades autorizadas em 2019 para 131.000 em 2021, quase metade da meta do programa de habitação popular prevista para quatro anos.
A Aprova coloca no automático atividades que podem ser facilmente executadas por um sistema. "Não é mais necessário que o cidadão se desloque até o balcão de atendimento ou imprima documentos, tudo fica armazenado na nuvem e pode ser realizado até 90% mais rápido", explica Zanatta.
A govtech já ajudou 75 cidades brasileiras a economizarem mais de 300 mil toneladas de papel e R$ 50 milhões dos cofres públicos. Atualmente, cerca de 21 milhões de brasileiros têm acesso a serviços governamentais através da plataforma.