A burocracia só existe porque o governo ainda não é instantâneo

Marco Antonio Zanatta
Fundador e CEO da Aprova
A burocracia ocupa espaço demais na gestão pública. Outro dia, ouvi de um prefeito:
“Marco, não aguento mais gastar reunião inteira discutindo carimbo e papelada.”
Essa frase resume o dilema de municípios brasileiros: enquanto o tempo dos gestores é consumido por trâmites lentos, a política pública — que deveria estar no centro — fica em segundo plano.
A pergunta que incomoda é: até quando vamos aceitar que o excesso de burocracia determinem o ritmo de uma prefeitura inteira?
A burocracia só existe porque ainda existe espera
A lógica da burocracia é simples: existe porque há espera.
Um protocolo precisa de assinatura. Um documento precisa de conferência. Um carimbo precisa ser dado. Até que alguém cumpra cada uma dessas etapas, o processo fica parado.
Essa espera é o que alimenta filas, pilhas de papel e reuniões intermináveis.
Mas e se não houvesse espera?
Em um governo digital, processos são instantâneos. O que antes demorava dias ou semanas se resolve em minutos. E, nesse cenário, a burocracia deixa de ser protagonista.
O que sobra é gestão de verdade: prefeitos discutindo políticas públicas, não carimbos.
A tecnologia não é inevitável
Existe uma crença perigosa: a de que a tecnologia vai se impor sozinha, como se fosse um destino inevitável.
Não é assim que funciona.
A transformação digital só acontece quando há:
✅ Decisão política.
✅ Coragem de simplificar.
✅ Equipes técnicas competentes atuando no problema certo.
Em 2017, por exemplo, em Cascavel, ninguém falava em automatizar o processo de alvarás. Se a decisão não tivesse sido tomada, até hoje o cidadão estaria na fila com pastas de papel.
Inovação não nasce da moda. Ela nasce da escolha política, seguida de execução técnica.
Hoje, a cidade paranaense é referência em governo instantâneo com inteligência artificial e emite alvarás e licenças de forma automática com agilidade e segurança.

IA não substitui pessoas — substitui burocracia
Talvez o mito mais persistente sobre inteligência artificial seja o medo de perder empregos.
Mas vamos inverter a lógica.
Quando uma empresa cresce, ela contrata mais gente. Aumenta sua capacidade. Amplia entregas.
Com a IA é a mesma coisa. Ela não substitui servidores. Ela elimina o excesso de burocracia - a burocracia desnecessária.
O servidor deixa de perder tempo conferindo documentos básicos e passa a atuar onde realmente importa:
Planejamento.
Execução de políticas públicas.
Atendimento direto à população.
É assim que a IA devolve às pessoas o protagonismo da gestão. Não tirando seu lugar, mas tirando da frente a pilha de tarefas que não agregam valor.
A segunda onda da inteligência artificial
A primeira onda da IA foi o ChatGPT. Ele aproximou a tecnologia do cidadão comum.
Agora, vivemos a segunda onda: a dos agentes inteligentes.
Eles funcionam 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem interrupções. Não se cansam, não acumulam atrasos. E isso muda tudo.
Porque a burocracia só existe enquanto existe espera. Se o processo é instantâneo, a lógica inteira se transforma.
Um licenciamento pode ser concedido no mesmo dia. Um alvará pode ser aprovado em minutos. Uma certidão pode ser emitida automaticamente.
Imagine uma prefeitura em que cada solicitação pudesse ser resolvida quase em tempo real.
Esse é o governo instantâneo.

O protagonista da mudança
A tecnologia já existe. Mas ela não se move sozinha.
É o prefeito, o secretário, o servidor que escolhe se a transformação vai acontecer agora — ou se a cidade vai assistir de fora enquanto outro município lidera.
Essa decisão exige coragem. Coragem de simplificar. Coragem de mexer em processos antigos. Coragem de enfrentar a resistência de quem defende o papel, o carimbo e a lentidão como se fossem tradição.
O futuro da gestão pública não será sobre mais burocracia. Será sobre líderes que entendem que velocidade, eficiência e instantaneidade são o novo padrão.
No fim, a verdade é dura: a burocracia só existe porque gestores ainda aceitam que ela exista.

Marco Antonio Zanatta
Sou fundador e CEO da Aprova, govtech referência em gestão, automação e inteligência artificial aplicada a processos eletrônicos públicos. Há quase uma década acompanho de perto a transformação digital em dezenas de prefeituras brasileiras. Me siga para ver como estamos, agora com o apoio do Banco do Brasil, construindo soluções inovadoras para o setor público.